terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Descansem em paz!

O que mais está para me acontecer? Primeiro foi o ginecologista a dizer “ai agora era um disparate engravidar, com esse peso, vai ter de esperar”; depois foi o maldito do orçamento de estado que me roubou a possibilidade de ir de férias; e agora, partiram-se em mil bocadinhos os dois objectos pelos quais tenho maior devoção cá em casa. Mas há coração que aguente?
Eles dizem que sim! Os sábios, aqueles que, pelo dia em que nascemos, são capazes de calcular a influência dos astros na nossa personalidade, dizem que a mulher de signo touro é uma fortaleza que tudo suporta. Dizem também que somos materialistas, que damos valor divino a tudo o que temos. Ofendem-nos ao dizer que, se dermos uma festa em casa, vamos fazer questão de referir o quão valiosos são os copos de cristal, ou a toalha de mesa bordada (apesar de salvaguardarem que lembraríamos de igual modo a importância e a razão da festa, considerada por nós um rito quase sagrado). Os sábios dizem que para nós, o valor material e espiritual são exactamente a mesma coisa e têm o mesmo significado, que nos apegamos às coisas com muita facilidade e temos necessidade de conservar tudo o que possuímos. E então?

Posto isto, como posso eu ter uma reacção normal ao facto de se terem partido de uma só vez os dois anjos que comprei há mais de 10 anos, quando ainda estudava? Os dois anjos que comprei com o dinheiro acumulado das minhas poupanças, depois de ter ido umas três ou quatro vezes à loja, admirá-los para ver se ainda lá estavam porque da primeira vez que os vi tive a certeza que tinham de ser meus? Como é que alguém pode querer que eu tenha uma reacção equilibrada e proporcional? Como é possível não ser materialista e pensar “eram apenas dois objectos” ou “qualquer dia compro outros parecidos” ou ainda “olha, ainda bem, já estava farta deles e já tenho desculpa para ir comprar uns novos”? Como podem pedir-me sensatez e bom senso? Eu sei que ninguém se magoou, que não me caiu a casa, que (ainda) não perdi o emprego, mas caramba, tanta coisa para partir e tinham de ser logo eles.
Mas há mais! Esses malditos sábios, que nos rogam pragas e nos infernizam com as suas profecias, ainda têm a distinta lata de dar umas sugestõezinhas sobre como irritar um nativo de touro. Entre elas, consta “se for possível parta jarras ou outros objectos de decoração da casa deles e depois pergunte: Isto não tinha muita importância, pois não?". Ai, se alguém se atrevesse a partir os meus anjos e a dizer isto!
Mal por mal, que tenha sido eu a parti-los! É que é mais fácil fazer as pazes comigo própria!
Descansem em paz meus queridos! A mamã vai ter saudades vossas!

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